segunda-feira, 13 de março de 2017

A informação empodera. Saiba seus direitos e diga NÃO à violência!

Vida na Suíça
A violência contra a mulher é um dado histórico cultural inegável e mesmo assim continua sendo um tabu. Embora o tema desperte bastante interesse sensacionalista, a verdadeira extensão de suas causas e suas consequências não está enraizada na consciência pública. A falta de informação, o desconhecimento, a ignorância e em alguns casos, o medo de se confrontar com a realidade são fatores que corroboram para que as agressões continuem ocorrendo e o tema continue sendo tratado como irrelevante.

A violência contra a mulher começa na mente. Os estereótipos de gênero é que determinam normalmente como as mulheres são tratadas. Eles são responsáveis pelo sexismo cotidiano, estrutural, pela violência física e psicológica. Eles moldam representações do desenho do espaço público e privado. Os papéis de gênero têm um efeito sobre nossas relações e nosso ambiente social. O constructo de que as meninas usam rosa, meninos não choram, meninas são mais emocionais e os meninos devem provar constantemente que são fortes é bastante comum. Tais idéias restritivas sobre características tipicamente femininas ou masculinas são a base dos papéis de gênero. Mas estes papéis não são condições naturais e sim uma atribuição política e social de características e normas de comportamento. Pessoas estão sujeiras a violência quando elas estão em conformidade com as normas de gênero, ou ainda, mesmo que não estejam rigorosamente conformes com essas normas, elas agem em conformidade. 

Para que as vítimas saibam de seus direitos e possam fazer uso dos mesmos, para que amigos e familiares possam dar o apoio imprescindível em momentos de crise é fundamental que o tema seja trazido a tona cada vez mais com seriedade e que as pessoas se conscientizem da necessidade de uma mudança de atitude.

Violência sexual – quando digo não quero dizer exatamente não

O tema da violência sexual, por sua complexidade, perpassa diferentes áreas e disciplinas: a vítima necessita de atenção médica, psicossocial e jurídica.

Violência sexual continua sendo tabu: em muitos casos as pessoas não querem saber do assunto, a maioria empurra a “culpa do ocorrido” para a mulher e há ainda os que querem acreditar que “isso só acontece com estranhos”. Entretanto os fatos e estatísticas retratam outra coisa.

Violência sexual no caso de mulheres adultas é qualquer ato sexual não consentido, ou que constranja a presenciar, ou tentativa de ato sexual, avanço ou comentário sexual não desejado, assim como quaisquer outros contatos e interações de natureza sexual efetuados por uma pessoa sobre outra, contra a sua vontade ou mediante coação, intimidação, chantagem, suborno ou manipulação.

A violência ou abuso sexual contra as mulheres parece ainda ser tão “natural” que até mesmo muitas mulheres não a percebe em alguns contextos. Certamente toda mulher conhece uma ou mais das seguintes situações: uma cantada indesejada; medo e incerteza durante a noite ou durante o dia na rua / em locais públicos; observações ou toques desagradáveis; assédio por telefone, correio, SMS, e-mail; pressão sutil ou explícita para manter relações sexuais por parte dos parceiro; piadas obscenas no trabalho; um não que não é aceito, entre outras.

Qualquer forma de violência sexual é uma intrusão maciça e contundente na vida e acarreta consequências múltiplas. Os sintomas podem apresentar-se de diferentes formas e intensidades, dependendo, entre outros, do nível de violência sofrido, do número de agressores, da condição e da situação de vida das mulheres no momento em que ocorreu a violência sexual, de sua história e de experiências anteriores com crises da vida ou ainda da reação do seu meio social.

A violência sexual afeta a identidade de gênero, fere a autoimagem e a autoestima, é extremamente humilhante e pode acarretar como consequência desde ataques de pânico e ansiedade, perda de confiança em outras pessoas, dificuldade em dormir, pesadelos, problemas de concentração, transtornos alimentares, depressão, nojo, vergonha e culpa, desespero, raiva e pensamentos de vingança, até pensamentos suicidas.

A violência sexual pode acontecer em todas as faixas etárias e em diferentes relações, tais como nas mais íntimas, nas relações familiares, nas relações de namoro, nas relações de amizade, nas relações ocasionais (como um relacionamento de uma noite) ou ainda nas relações formais (com colegas de trabalho, por exemplo).

Também pode acontecer em diferentes contextos, por exemplo, em casa, na escola, na rua, no ambiente de trabalho ou por meio da internet.

A violência sexual pode assumir diferentes formas: o assédio sexual no local de trabalho, o estupro, sedução, atendado violento ao pudor ou agressão sexual, a exploração sexual em relações de dependência profissionais, a violência sexual em relações de parceria ou no casamento ou ainda o stalking (perseguição).

A violência sexual tem lugar sobretudo no círculo de conhecidos. A maioria dos crimes sexuais não são perpetrados por estranhos, mas por parceiros, ex-parceiros e/ou colegas.

Violência Doméstica - Tapa de amor dói

Rainer Maria Rilke (2000): “Um dia ali estará à moça cujo nome não mais significará apenas uma oposição ao macho nem suscitará a idéia de complemento e de limite, mais sim a de vida, de existência: a mulher-ser humano.”

Violência doméstica ocorre no contexto familiar e pode acontecer entre pessoas com laços de sangue, como pais e filhos, ou pessoas unidas de forma civil, como marido e esposa. Não necessariamente o ato de violência ocorre, como o nome sugere, dentro de casa. A violência pode ser física, mental ou estrutural, tendo graves resultados para a saúde física e psíquica da mulher. Embora alguns casos ocorram devido ao uso abusivo de álcool ou drogas ou ainda por ataques de ciúmes, nem sempre é necessário que haja um motivo para um ato de violência.

Infelizmente, a visão patriarcal que reforça relações de discrepância entre os gêneros, ainda permite que comentários do tipo “ele pode não saber porque bateu, mas ela sabe porque apanhou”; ou “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” continuem fazendo parte do cotidiano de muita gente.

Em decorrência da violência, a mulher fica em muitos casos vulnerável e acaba mantendo-se em uma situação de subordinação e dependência.

A violência psicológica, por exemplo, tem como objetivo humilhar as mulheres e minar suas forças através de controle constante, perseguição, extorsão, ameaça, coação e chantagem. É uma forma brutal de abuso de poder e em muitos casos faz com que a vítima entre em um estado de isolamento.

Romper com o ciclo de violência é muito difícil tendo em vista toda a situação que o permeia. São vários os fatores envolvidos e que muitas vezes dificultam uma mulher a dar um basta numa relação em que há violência. Ter uma compreensão desses fatores, estar consciente de seus direitos e ter uma visão realista da ajuda com a qual se pode contar é o primeiro passo para que haja uma mudança.

O Centro de Assistência oferece informações sobre como proceder em caso de violência doméstica, informa sobre aspectos importantes da separação e do divórcio, organizando para que a vítima tenha acesso, caso necessário, a uma consulta jurídica a fim de que possa decidir quais os passos e providências deseja tomar.

Informação e apoio profissional

O Centro de Assistência para Mulheres Vítimas de Violência Sexual - Frauenberatung sexuelle Gewalt (casos de violência sexual e doméstica) nasceu em 1981 e é um local de aconselhamento reconhecido pela Lei de Assistência às Vítimas (OHG). O Centro de Assistência oferece gratuitamente acompanhamento psicológico, apoio em situações de crise, aconselhamento jurídico, acompanhamento em processos penais, informações sobre direitos no âmbito da Lei de Assistência às Vítimas e acompanhamento ou indicação para outras especialidades, como advogados, terapeutas, etc.

As sessões acontecem durante período comercial em Zurique, mediante hora marcada por telefone.

Todo esse serviço, realizado por uma equipe de mulheres, profissionais de diferentes áreas e com experiência abrangente nos temas de violência contra a mulher, mantém o sigilo profissional. As consultas podem ser anônimas, caso seja de interesse.

Quem é o público-alvo?

Adolescentes a partir de 14 anos e mulheres que sofreram violência sexual na juventude ou na vida adulta na Suíça ou ainda mulheres vítimas de violência doméstica podem se beneficiar do aconselhamento.

Caso necessário, são organizadas tradutoras, que também guardam o sigilo profissional nos termos da Lei de Assistência às Vítimas.

O Centro de Assistência é acessível para cadeirantes.

Além das vítimas, podem se beneficiar de consultas especializadas os familiares, pessoas de confiança de uma mulher que tenha sofrido violência sexual ou doméstica e ainda os profissionais de diferentes áreas que são confrontados com a questão da violência contra a mulher.

Em caso de emergência ligue para a polícia 117

Busque apoio, informe-se! Isso é um direito seu!

Frauenberatung: sexuelle Gewalt
Centro de Assistência para Mulheres Vítimas de Violência Sexual e Doméstica

Langstrasse 14
8004 Zürich
Tel.: 044 291 46 46
www.frauenberatung.ch
info@frauenberatung.ch
PC 80-44005-3
Atendimento também em português

Talitha Salum Widmer é psicóloga, com especialização em psiquiatria e saúde social. Trabalha há 25 anos com a temática violência contra a mulher. Atualmente atua no Centro de Aconselhamento para Mulheres (Frauenberatung sexuelle Gewalt).

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