segunda-feira, 6 de março de 2017

Alimentação: Como se adaptar à realidade suíça?


Vida na Suíça
Quem se muda para outro país enfrenta a quebra de muitos hábitos e tem necessidade de se adaptar aos modos e costumes locais. Uma das mais importantes e delicadas mudanças ocorre na alimentação.

Nós, brasileiros, nos orgulhamos das dimensões continentais do Brasil, que englobam uma variedade incontável de recursos naturais, uma variação regional ampla e uma grande oferta de alimentos praticamente o ano inteiro. Nosso histórico de colonização e emigração contribuiu para essa diversificação, incluindo componentes culturais e uma riqueza culinária sem precedentes.

Essa tradição culinária tão criativa e saborosa resulta da agregação à alimentação das populações indígenas nativas, de outras tradições, como a portuguesa, africana, espanhola, italiana, francesa, holandesa, alemã, japonesa, asiática, árabe e até suíça, apesar de mais discreta. Um dos patrimônios nacionais é essa singularidade, que tem cor, aroma, sabor, textura: a "comida brasileira".

Qual de nós não tem saudade da refeição caseira, que nos remete a lembranças da nossa terra, família, amigos? Essas recordações sensoriais, aliadas à memória gustativa, é impossível de apagar. Longe do país de origem, devemos tentar lidar com a alimentação de forma a enriquecer essas lembranças e contribuir de maneira positiva para nossa adaptação aqui.

Ajustar nossa alimentação num país estrangeiro é tarefa que exige flexibilidade, pesquisa, criatividade e um conhecimento mínimo da língua, para compreender as informações. Podemos buscar a ajuda de amigos brasileiros ou suíços, de outros estrangeiros ou grupos. Isso é bom, pois auxilia a criar e fortalecer vínculos sociais e enriquecer nosso vocabulário.

Entretanto por que não nos "aventurarmos" mais e nos abrirmos para novas experiências gastronômicas e nutricionais? Substituir alimentos, aprender a cozinhar ou re-inventar a preparação dos alimentos, conhecer novos produtos e sabores, assim como as típicas receitas locais. Deve-se lembrar que a Suíça é um país multicultural, com influências germânicas, italianas e francesas e que também oferece diferenças culinárias regionais. Vai muito além do chocolate, dos queijos, vinhos, fondue, raclette e grill.

É interessante reconhecer que aqui as estações do ano são bem definidas e a sazonalidade dos alimentos vegetais é bem mais marcante. É o momento em que os alimentos atingem seu pleno potencial nutricional. Exemplo disso são as épocas dos aspargos, das abóboras, morangos, cerejas, castanhas, maçãs, quando se aproveita para fabricar produtos e receitas com esses alimentos e se realizam os festivais gastronômicos. Pesquise o calendário. Indo além, por que não descobrir a culinária de outras regiões do planeta? Aqui na Suíça não é difícil encontrar um restaurante típico de outro país. É uma experiência ímpar!

Também ocorrem regularmente feiras livres nas cidades, com produtos naturais, artesanais, regionais. Há fazendas nos arredores que revendem sua produção. Dependendo do alimento e da época nós mesmos podemos colher. Que experiência maravilhosa, não? Em muitas dessas fazendas, além de um pequeno mercado, há um restaurante. A oferta de alimentos naturais, e orgânicos (bio) também é extensa. São alimentos mais saudáveis, produzidos sem fertilizantes químicos, hormônios sintéticos para crescimento, pesticidas e agrotóxicos, que podem causar danos à saúde. Investir nesses alimentos é investir na saúde.

Para quem segue dietas com restrições, por exemplo dietéticos, restrição de sódio, baixo teor de gordura, lactose, ou sem glúten ou açúcar, a oferta de produtos específicos é bem grande. É importante o aconselhamento de um profissional nutricionista para ajustar o plano nutricional.

Claro que não temos as mesmas marcas de produtos do Brasil, mas muitas vezes encontramos nas grandes filiais dos supermercados os mesmos produtos ou alguns semelhantes aos que compõem os cardápios brasileiros. Pesquise, pergunte, peça, converse com outros brasileiros, troque ideias com amigos nas reuniões nas associações brasileiras ou em grupos na internet . Há sempre alguém que já encontrou algum produto ou alimento regional ou fez substituições interessantes.

É surpreendente também o que se acha nas lojas de produtos portugueses, espanhóis, asiáticos, orientais, turcos, libaneses. Encontra-se produtos típicos da cozinha brasileira in natura ou congelados, como a couve mineira ou quiabo, que na verdade são oriundos de outros países. Frutas como manga, coco e banana, tradicionais no Brasil, são nativas da Ásia e por isso não é difícil encontrá-las em outros mercados por aqui. Também nas lojas brasileiras encontramos cada vez mais sortimento da cozinha típica brasileira: feijão preto, farinha de mandioca, polvilho, azeite de dendê, temperos, além de congelados, como polpas de frutas nativas do norte-nordeste e até a erva mate para o chimarrão gaúcho. Pescados frescos e produtos cárneos de qualidade para ajudar a compor nossos pratos regionais encontramos em lojas especializadas e em dias específicos da semana. Informe-se na sua região.

Os restaurantes exclusivamente brasileiros servem os principais pratos regionais, sobremesas e até bebidas das marcas mais conhecidas. Temos também profissionais autônomos brasileiros, que prestam serviços oferecendo desde os nossos salgadinhos, passando pelo pão de queijo até a feijoada e outras comidas regionais, tipo nordestina ou mineira. Podemos encomendar e comer em casa. Importante é certificar-se de que as pessoas trabalham atendendo os critérios e controles sanitários suíços para a produção de refeições.

É fundamental compreender que não há tantas barreiras para encontrar e ter a "comida brasileira" na mesa. Lembre-se que o ato de comer não deve ser algo automático, apenas para saciar a fome, que nos remeta apenas a comprar, preparar, consumir algo ligeiro, monótono, sem valor nutritivo ou apelo gastronômico. O processo de adaptar nossa alimentação à realidade local deve ser um ato consciente, salutar, de socialização, de forma a usufruir do que o país e o continente nos oferecem: uma cozinha deliciosa, que preza pela qualidade. Essa cozinha, somada à herança culinária que trazemos na bagagem – muitas vezes oriunda do continente Europeu, vai tornar nossa estadia e vida aqui cada vez mais interessante, integrada e por que não dizer, mais gostosa .

Saúde e bom apetite!

Por Suzana Mantovani, Nutricionista Clínica e Consultora na área de Nutrição em geral, esportiva e médica.

Leia mais matérias na edição 17 da Revista Linha Direta

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