segunda-feira, 6 de março de 2017

Reiventando-se com resiliência

Vida na Suíça
Foto: Deborah Maristela Biermann
No último dia 3 de setembro a Prof. Dra. Pasqualina Perrig-Chiello, professora honorária da Universidade de Berna, discorreu sobre a “resiliência” para um público diversificado,
caracterizado por mulheres imigrantes. a palestra fez parte do projeto do cfd - Christlicher Friedensdienst (Serviço Cristão da Paz), voltado para mentoras e mentores. O projeto acolhe mulheres imigrantes que estejam planejando sua volta ao mercado de trabalho, algumas na sua área profissional de origem, outras reinventando-se, conforme as circunstâncias de vida atuais. 

No final da interessante palestra, a palestrante nos concedeu uma rápida entrevista, antes de dirigir-se ao delicioso coquetel oferecido pelas organizadoras.

LD: Dra. Perrig, a senhora é da opinião de que muitas mulheres imigrantes necessitem mudar seu foco no sentido de se reinventarem para que se integrem no mercado de trabalho?
PPC: Sim, eu sou da opinião de que nós sempre temos que nos redefinir, mesmo sem ser imigrantes. A imigração e seu processo acentuam essa necessidade. Mas, como imigrantes, as mulheres precisam levar outros pontos em consideração: Eu quero realmente? Qual a minha meta profissional? E o investimento, tanto financeiro como de energia, vale a pena para mim? Faz sentindo eu me ‘reinventar’ ou eu me encontro realmente num beco sem saída e não tenho escolhas? Sim, mudar o foco e olhar ao redor é imprescindível.

LD: Existe espaço?
PPC:
Veja bem, eu acabei de falar que eu tenho que reconhecer meu terreno, conseguir identificar minhas chances. Mas, de forma alguma devemos nos colocar na posição de vítimas. Se nós passarmos a nos enxergar como vítimas, seja do sistema, do mundo, do destino, então vamos entregar os pontos. Nós não somos uma bola em jogo, de lá para cá! Nós temos poder, somos poderosas - e aqui eu não me dirijo somente às mulheres! Por esse motivo eu mencionei que estava meio irritada com o título do evento de hoje: Empowerment? Eu entendo o empoderamento somente quando eu não tenho poder algum, mas como mulher, como pessoa, todos temos nosso poder e podemos, isto sim, acordá-lo, cutucá-lo, colocá-lo para ‘funcionar’. Sim, há muito espaço.

LD: O que é necessário?
PPC:
Precisamos acima de tudo acreditar em nós e estabelecer metas acessíveis, pequenas e realizáveis. Por exemplo, minha meta esta semana pode ser unicamente o de fazer minha vizinha me cumprimentar, pois ela nunca olha para mim. Vou tentar me aproximar mais dela, desenvolver uma estratégia para que a situação entre nós se altere. Eu não preciso, necessariamente, estabelecer metas como ‘falar alemão em seis semanas’ ou ‘emagrecer 10 quilos em dois meses’. Eu tenho que aprender a estabelecer metas e a alcançá-las. Assim eu tenho a sensação de sucesso, que vai me impulsionar para metas cada vez mais ousadas. Mas se eu já vier com a intenção de conseguir um emprego com cargo de chefia, como eu tinha em meu país, vou certamente me decepcionar muito e provavelmente não vou conseguir atingir essa meta como esperava.

LD: E a “resiliência” sobre a qual a senhora discorreu hoje faz parte deste processo?
PPC:
Resiliência, como eu mencionei, nada mais é do que resistência. Trata-se de uma resistência à falência de metas e objetivos, que provocam um estado psicológico de insucesso. A resiliência já vem sendo tratada na psicologia há muito tempo, entretanto tem ganhado muito mais interesse nesses últimos tempos. Eu mesma, profissionalmente, ando muito ocupada com esta questão: são interessados vindos da indústria química, dos grandes bancos, das comunidades religiosas. Todos desejam saber como tornarse uma pessoa resiliente. No processo imigratório, a resiliência está presente, pois os fracassos muitas vezes são repetidos e desanimadores. Mas é possível aprender a ser resiliente. Entretanto, temos que mentalizar que não somos elásticos, não conseguimos reagir com resiliência em toda e qualquer situação.

LD: Como “reinventar-se” profissionalmente?
PPC:
Como eu mencionei antes, o importante é que aprendamos a estabelecer metas e objetivos realistas para nossos planos. Sem planejamento e preparo fica complicado alcançar qualquer meta. Se nós não formos comprar os ingredientes para cozinhar, não vamos conseguir ‘produzir’ a comida como esperado. Assim, não basta ter planos, temos que elaborá-los, estruturá-los e aprender a ser resilientes para as situações que não ocorrem como esperado.

LD: Precisamos abandonar os sonhos e partir para uma área completamente diferente?
PPC:
Não, de forma alguma. Nós podemos sonhar, sonhar, sonhar como quisermos, mas temos que aprender a reconhecer o grau de realidade em cada um desses sonhos. Não adianta eu querer ser uma bailarinha se eu manco de uma perna... Não, falando sério, os sonhos são possíveis e necessários, mas precisam ser também adequados.

LD: Qual a sua dica para as mulheres imigrantes que apresentaram hoje este projeto e a convidaram para a palestra?
PPC:
Eu não sei bem porquê, mas tive a impressão de que essas mulheres têm pouca autoestima. Elas parecem não querer muito acreditar nelas mesmas. É como se tivessem um pouquinho de medo da responsabilidade de assumir realmente o que são e o que fazem. Eu repito que é necessário estabelecer metas e objetivos pessoais e profissionais para avançar na sociedade. Mas temos mesmo que aprender a definir essas metas como pequenas conquistas e acreditar sempre positivamente em nós mesmas. Foi como eu mencionei: precisamos levantar todo dia e olhar no espelho dizendo a nós mesmas: “Eu sou uma pessoa agradável, simpática e inteligente”. Isso ajuda muito mais do que parece. Influencia até mesmo o metabolismo. Se estivermos sempre para baixo, tristes, desacreditadas, vamos vivenciar situações semelhantes. Mais autoestima, mais confiança e coragem seriam minhas dicas para as imigrantes que desejam voltar ao mercado de trabalho.

QUEM É A PALESTRANTE - A Prof. Dra. Pasqualina Perrig-Chiello chegou à Suíça aos 7 anos, filha de imigrantes italianos, sem saber falar alemão. Formou-se em Psicologia em Fribourg (Suíça) em 1977 e doutorou-se pela mesma universidade já em 1981. Mãe de quatro filhos, reside em Basileia e acumula diversos títulos de gerenciamento de projetos sobre assuntos que vão desde a puberdade à crise de meia-idade e o recomeço na terceira idade. É Professora Honorária do Instituto de Psicologia de Desenvolvimento na Universidade de Berna e autora de inúmeros livros sobre o assunto. Mais informações em: http://www.entwicklung.psy.unibe.ch/content/team/ppc/index_ger.html

RESILIÊNCIA (PSICOlOGIA) - A resiliência é um aspecto psicológico, definido como a capacidade de um indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico. A resiliência não é um traço de quatro rodas, embora características pessoais possam contribuir para uma adaptação positiva a adversidades (Masten, 2014). A resiliência de um indivíduo dependerá da interação de sistemas adaptativos complexos, como o círculo social, família, cultura, entre outros. Alguns pesquisadores concordam que a resiliência pode se apresentar ou não em vários domínios da vida de uma pessoa (saúde, trabalho, etc.) e variar ao longo do tempo (Southwick et al, 2014). Fonte: Wikipedia


Por Deborah Maristela Biermann é tradutora reconhecida Alemão- Português ASTTI, intérprete e tradutora jurídica reconhecida pelo Cantão de Berna, tradutora intercultural com Certificado Federal de Capacidade Profissional, formadora de adultos e consultora em assuntos de migração. deborah@biermann.ch / http://www.brasilianisch.ch / http://www.brasil-infos.ch/forum


Leia mais matérias sobre o assunto na Edição 15 da Revista Linha Direta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

author
Guia Vida na Suíça
Faça o download gratuito do e-book.